Sempre considerava indispensável dar a conhecer às minhas crianças o que esperava delas. Algumas das minhas colegas mostravam-se cépticas quanto a este método, alegando que a personalidade destas crianças era frágil demais para aguentar esta franqueza.
Eu discordava. Embora todas elas tivessem indubitavelmente pequenos egos tristes e amarrotados, nenhum era frágil. Muito pelo contrário. O facto de terem sobrevivido o suficiente para estarem onde estavam depois do que a maioria passara testemunhava a sua força.
No entanto, todas elas levavam vidas caóticas e a natureza dos seus problemas contaminava os outros. Não me parecia ter o direito de aumentar o caos, deixando-as adivinhar o que esperava delas. Achava que estabelecer uma estrutura era um método útil e produtivo com todas as crianças, pois eliminava a imprecisão da nossa relação. Era óbvio que elas já se haviam mostrado incapazes de lidar com os seus próprios limites, sem ajuda, ou nunca terem vindo a parar à minha aula. Mal chegava a altura apropriada, eu iniciava o processo de lhes passar a responsabilidade. Contudo, de início, queria que não existissem dúvidas quanto ao que esperava delas.
Torey Hayden
A Criança Que Não Queria Falar, Editorial Presença, 2007