"A degradação da cultura está intimamente ligada ao capitalismo neoliberal"
Urbano Tavares Rodrigues
Esteiro - Parabéns pela edição das Obras Completas, em curso de publicação. Queres falar sobre isso?
U.T.R. - A publicação das minhas Obras Completas foi para muitos leitores uma descoberta; jovens que ignoravam e descobriram afinidades com a minha escrita e com os meus ideais. Além disso, os prefácios de Eugénio Lisboa e de Manuel Gusmão são muito ricos e esclarecedores o que contribui para iluminar essas obras antigas que agora surgem renovadas.
Esteiro - Como vês a literatura portuguesa actual e o seu papel na nossa sociedade?
U.T.R. - A literatura portuguesa actual apresenta escritores com preocupações sociais muito fortes, como, por exemplo, José Luís Peixoto no seu último romance Livro, valter hugo mãe, especialmente em O Apocalipse dos Trabalhadores, o Rui Cardoso Martins no seu romance Deixem Passar o Homem Invisível. Mesmo noutros autores como, por exemplo, João Tordo, há textos magníficos de solidariedade social e isso é extensivo a Dulce Maria Cardoso ou a Patrícia Reis. A degradação da cultura em favor dos subprodutos alienantes está intimamente ligada ao capitalismo neoliberal que vive o seu crepúsculo com grande agressividade. É claro que a discussão teórica destes problemas tem sido por vezes debatida quer em artigos da Vértice quer nas tão importantes reuniões de intelectuais progressistas, em Serpa, organizadas pelo Miguel Urbano Rodrigues, com o título genérico "Socialismo ou Barbárie".
Esteiro - Qual é para ti a grande contradição do nosso tempo e como achas que se resolverá?
U.T.R. - A globalização capitalista que estendeu os seus tentáculos até à China, está fortemente ameaçada de um estoiro monumental, o que abriria caminho ao surto de democracias socialistas com um enorme pendor ecológico e características possivelmente diferentes neste ou naquele espaço da Europa e da América Latina. É difícil prever o futuro, mas estas sociedades de homens livres e de tendência igualitária correspondem a um fundo anseio da humanidade.
Entrevista de
Leonor Freitas,
em 6 de Janeiro de 2011