Não sei o que se passa com as mulheres; querem sempre uma relação diferente da que têm. Quando conhecem alguém não dizem: Que bom gosto, como gosto da maneira que ele tem de andar, a parcimónia com que actua, como pensa ou faz os ovos mexidos, mas sim como desejaria que ele pintasse quadros abstractos, que gostasse mais da farra, ou que não tivesse tantos medos infantis, os desejos incumpridos de subir na carreira. (...) O que se passa com as mulheres de hoje em dia? Apaixonam-se perdidamente por alguém que não aceitam tal como é. Pedem sempre ao outro algo mais ou diferente, algo que não está dentro das possibilidades dele. Algo que não so liga um ao outro, que não tem que ver com o seu temperamento ou os seus gostos. Porque é que as mulheres querem mudar os homens? Porque é que não se apaixonam pelo que eles são, e não pelo ideal do que poderiam vir a ser? Tudo em que se empenham é mudá-los, fazê-los à imagem e semelhança do que elas querem que sejam ou acreditam que eram. Podem passar a vida a tentar transformar o homem com quem estão para que se pareça com esse outro ideal que foi sendo forjado na mente à conta de imaginá-lo.
(...)
Paula Izquierdo
A Falta, Ambar, 2006