E, pela primeira vez na vida, Grenouille duvidou do seu nariz e viu-se forçado a requisitar a ajuda dos olhos para acreditar no que cheirava. A bem dizer, esta exigência dos sentidos não foi muito duradoura. Bastou-lhe, de facto, um instante para se certificar e abandonar-se ainda mais impetuosamente às percepções do seu olfacto.
(...)
Grenouille tomou consciência que, sem a posse deste perfume, a sua vida perderia todo o sentido. Precisava conhecê-lo até ao mais ínfimo detalhe, até à última e mais subtil das suas ramificações; não lhe bastaria a recordação complexa que dele pudesse guardar.
Desejava imprimir este perfume apoteótico, como um sinete, nas pregas da sua alma obscura, e em seguida, estudá-lo em pormenor e conformar-se finalmente com as estruturas internas desta fórmula mágica como orientação do seu pensamento, da sua vida e do seu olfacto.
Patrick Süskind
O Perfume, Editorial Presença, 2002