Parece ser ponto assente que, na primeira metade deste século, os desenvolvimentos mais universais do que teria sido a poesia romântica encontraram expressão amadurecida e profunda nas vozes de dois poetas (estrangeiros) de língua inglesa: T. S. Eliot e W. B. Yeats.
A acreditar, aliás, nas convicções do primeiro, o segundo seria o poeta inaugural do nosso tempo e se ambos, efectivamente, se posicionaram na História da Literatura como paradigmas de um romantismo culto e elitista que absorveu, entre outras, a manifestação simbolista e se tornou abrangente, tendendo para uma atitude filosófico-política em busca de uma estética, William Butler Yeats, ao trocar a inspiração pela liberdade, não se limitou a substituir conceitos e acabou por empurrar o romantismo até aos limites do seu primitivo ideário.
Tratou-se, efectivamente, de uma compreensão da modernidade e de uma participação na definição dos seus contornos, a partir de modelos de uma corrente cultural, simultaneamente, irlandesa e universal, de uma educação religiosa que tinha tanto de mítico como de mágico e de uma vivência afectiva que, no plano amoroso, se diluiu durante longo tempo numa sociabilidade que os modelos cultural e religioso informavam completamente.
Contudo, sem uma experiência estritamente poética que aprofundasse conscientemente as virtualidades da linguagem para veicular uma particular visão do tempo e da eternidade, para unificar a espiritualidade e o corpo, para decantar do magma cultural a substância criativa que redime o ser, a sua obra não teria podido conter o sujeito no interior da sua humana condição, deixando-o, provavelmente, à mercê de uma teosofia de contornos nacionalistas ou de uma ideologia religiosa racionalizada pelo protestantismo, ambas desligadas do quotidiano e do real.
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Laureano Silveira
W. B. Yeats
Uma Antologia, Assírio & Alvim, 1996