Coquette - de origem francesa "coquette" significa sedutora, na gíria portuguesa pode significar vaidosa ou graciosa. Intelectual - que pertence ao intelecto ou à inteligência, espiritual.

13
Jun 12

 

Parece ser ponto assente que, na primeira metade deste século, os desenvolvimentos mais universais do que teria sido a poesia romântica encontraram expressão amadurecida e profunda nas vozes de dois poetas (estrangeiros) de língua inglesa: T. S. Eliot e W. B. Yeats.

A acreditar, aliás, nas convicções do primeiro, o segundo seria o poeta inaugural do nosso tempo e se ambos, efectivamente, se posicionaram na História da Literatura como paradigmas de um romantismo culto e elitista que absorveu, entre outras, a manifestação simbolista e se tornou abrangente, tendendo para uma atitude filosófico-política em busca de uma estética, William Butler Yeats, ao trocar a inspiração pela liberdade, não se limitou a substituir conceitos e acabou por empurrar o romantismo até aos limites do seu primitivo ideário.

Tratou-se, efectivamente, de uma compreensão da modernidade e de uma participação na definição dos seus contornos, a partir de modelos de uma corrente cultural, simultaneamente, irlandesa e universal, de uma educação religiosa que tinha tanto de mítico como de mágico e de uma vivência afectiva que, no plano amoroso, se diluiu durante longo tempo numa sociabilidade que os modelos cultural e religioso informavam completamente.

Contudo, sem uma experiência estritamente poética que aprofundasse conscientemente as virtualidades da linguagem para veicular uma particular visão do tempo e da eternidade, para unificar a espiritualidade e o corpo, para decantar do magma cultural a substância criativa que redime o ser, a sua obra não teria podido conter o sujeito no interior da sua humana condição, deixando-o, provavelmente, à mercê de uma teosofia de contornos nacionalistas ou de uma ideologia religiosa racionalizada pelo protestantismo, ambas desligadas do quotidiano e do real.

(...)

Laureano Silveira

 

W. B. Yeats

Uma Antologia, Assírio & Alvim, 1996

publicado por coquetteintelectual às 19:12

06
Jun 12

A função do cérebro e do sistema nervoso é proteger-nos de sermos esmagados e confundidos por este amontoado de informações em grande parte inúteis e irrelevantes excluindo grande parte do que de outro modo apreenderíamos ou recordaríamos a todo o momento e deixando apenas essa selecção muito reduzida e especial do que poderá ter utilidade prática. De acordo com tal teoria cada um de nós é potencialmente detentor de uma Mente sem Limites (Mind at Large). Porém, na medida em que somos animais, o nosso objectivo é sobreviver a todo o custo. Para tornar a sobrevivência biológica possível a Mente sem Limites tem de ser obrigada a passar através da válvula redutora do cérebro e do sistema nervoso. O que sai do outro lado é uma mísera gota do tipo de consciência que nos vai ajudar a permanecer vivos à superfície deste planeta em concreto.
(...)
Nos antípodas da mente estamos mais ou menos completamente livres da linguagem, fora do sistema de pensamento conceptual.
Consequentemente, a nossa percepção dos objectos visionários possui toda a frescura, toda a intensidade nua das experiências que nunca foram assimiladas a abstracções sem vida. A sua cor (esse traço distintivo da sua qualidade real) irradia um brilho que nos parece preternatural por ser de facto completamente natural - completamente natural no sentido de completamente inadulterado pela linguagem ou pelas noções científicas, filosóficas e utilitárias através das quais normalmente recriamos o mundo real à nossa própria imagem desoladoramente humana.
(...)

 

Aldous Huxley

As Portas Da Percepção - Céu E Inferno, Via Optima, 2005

publicado por coquetteintelectual às 23:54

01
Jun 12

 

Sempre considerava indispensável dar a conhecer às minhas crianças o que esperava delas. Algumas das minhas colegas mostravam-se cépticas quanto a este método, alegando que a personalidade destas crianças era frágil demais para aguentar esta franqueza.

Eu discordava. Embora todas elas tivessem indubitavelmente pequenos egos tristes e amarrotados, nenhum era frágil. Muito pelo contrário. O facto de terem sobrevivido o suficiente para estarem onde estavam depois do que a maioria passara testemunhava a sua força.

No entanto, todas elas levavam vidas caóticas e a natureza dos seus problemas contaminava os outros. Não me parecia ter o direito de aumentar o caos, deixando-as adivinhar o que esperava delas. Achava que estabelecer uma estrutura era um método útil e produtivo com todas as crianças, pois eliminava a imprecisão da nossa relação. Era óbvio que elas já se haviam mostrado incapazes de lidar com os seus próprios limites, sem ajuda, ou nunca terem vindo a parar à minha aula. Mal chegava a altura apropriada, eu iniciava o processo de lhes passar a responsabilidade. Contudo, de início, queria que não existissem dúvidas quanto ao que esperava delas.

 

Torey Hayden

A Criança Que Não Queria Falar, Editorial Presença, 2007 

publicado por coquetteintelectual às 17:25

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