Os jogos são em número variadíssimo e de múltiplos tipos: jogos de sociedade, de destreza, de azar, jogos de ar livre, de paciência, de construção, etc. Apesar desta quase infinida diversidade, e com uma notável constância, a palavra «jogo» evoca por igual as ideias de facilidade, risco ou habilidade. Acima de tudo, contribui infalivelmente para uma atmosfera de descontracção ou de diversão. Acalma e diverte. E voca uma actividade sem escolhos mas também sem consequências na vida real. Opõe-se ao carácter sério desta última e, por isso, vê-se qualificada de frívola. Por outro lado, opõe-se ao trabalho, tal como o tempo perdido se opõe ao tempo bem empregue. Com efeito, o jogo não produz nada - nem bens nem obras. É essencialmente estéril. A cada novo lance, e mesmo que estivessem a jogar toda a sua vida, os jogadores voltam a estar a zero e nas mesmas condições do início. Os jogos a dinheiro, apostas ou lotarias, não são excepção. Não criam riqueza, movimentam-na.
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Roger Caillois
Os Jogos E Os Homens, Edições Cotovia, 1990