Acredito que tudo o que podemos oferecer ao Céu é a honestidade humana. Quando chegamos aos portões de S. Pedro, quero eu dizer. Deve ser como sal para reinos sem sal, especiarias para os países sombrios do Norte. Uns poucos gramas na bagagem da alma que oferecemos para tentar entrar. Não sei como é a honestidade celestial. Mas digo isto para me preparar para a minha tarefa.
Pensei em tempos que a beleza era o meu bem mais precioso. Talvez assim tivesse sido no Céu. Mas não o foi nestas paragens terrenas.
Estar só, mas ser tomada por uma alegria imensa, de vez em quando, como julgo que me acontece, é na verdade um bem precioso. Aqui sentada, diante desta mesa marcada e riscada por uma dúzia de gerações de reclusos, pacientes, anjos, o que quer que sejamos, tenho de lhe descrever esta sensação de uma qualquer essência áurea que me invade, bem no sangue. Não é contentamento, mas uma oração tão feroz e perigosa como um rugido de leão.
Conto-lhe isto a si, a si.
Caro leitor. Deus o abençoe, Deus o abençoe.
Sebastian Barry
Escritos Secretos, Bertrand Editora, 2009