Coquette - de origem francesa "coquette" significa sedutora, na gíria portuguesa pode significar vaidosa ou graciosa. Intelectual - que pertence ao intelecto ou à inteligência, espiritual.

15
Out 11

 

Porquê escrever este livro?

A oportunidade surgiu de um convite do jornalista José Vegar, que me fez essa proposta de escrever um livro acerca da 'Geração à Rasca', curiosamente, no dia 12 de Março, aquando da manifestação. O porquê, foi a História que o ditou. Era o momento certo, e deixando passar esta época achámos que ficaria fora de tempo.

O que é que caracteriza a 'Geração à Rasca'?

É difícil definir, e eu própria fui confrontada com isso. Falei com alguns especialistas precisamente para tentar responder a essa questão e cheguei à conclusão de que é um fenómeno que ainda está a desenvolver-se e a assumir-se. Não tem balizas etárias nem um perfil fechado, abrange várias camadas da sociedade. É muito complexo e, como disse Machado Pais [sociólogo], «esta é uma geração que nasce do rumo da História». É algo que surgiu porque o contexto social assim o ditou. É uma geração que está a encarar um contexto em que não cabem realmente os objectivos, os sonhos e as metas que se tinham delineado há uns anos e que está a tentar reinventar esse caminho que parecia tão linear. É verdade que as oportunidades também se criam, mas eu fui confrontada com muitos casos de jovens que não pararam de tentar implementar o seu negócio exactamente para fugir a essas propostas. Mas será que o País sabe receber esses projectos? Também é uma questão que se coloca e muitos dos jovens que tentaram fazê-lo não dizem que sim.

(...)

O que é que esta geração pode fazer, na tua opinião, para construir um futuro com mais sucesso?

Em primeiro lugar, é não baixar os braços. O pessimismo por vezes é quase inevitável, mas não é solução. Mais vale tentar aproveitar as oportunidades porque, num cenário de crise, elas podem surgir, mesmo que não sejam logo na área de formação que sempre desejámos. Não somos um país com falta de recursos por explorar, portanto, é tentar investir na inovação, na criatividade. É claro que passa também por decisões superiores, mil e uma políticas que poderiam ser revistas. Do ponto de vista das instituições de ensino seria desejável haver uma maior aproximação ao mercado de trabalho. Mas não podemos ver só culpados, todos temos uma responsabilidade, todos ainda temos algo nas mãos para fazer, e isso é positivo.

Andreia Arenga

Mundo Universitário, 24 De Outubro

 

Ana Filipa Pinto

Geração À Rasca - Retrato De Uma Geração, Editorial Planeta, 2011 

publicado por coquetteintelectual às 12:00

04
Out 11

 

Os acontecimentos projectaram a sua sombra algum tempo antes. Durante toda esta primavera e verão, quando eu passava no passeio da rua, um gato ruivo de aspecto miserável saia debaixo dum carro ou dum jardim, e ficava a olhar intensamente para mim, não querendo ser ignorado. Queria alguma coisa, mas o quê? Gatos nos passeios, gatos nos muros do jardins, ou aparecendo das portas, esticam-se e abanam as caudas, cumprimentam, acompanham-nos durante alguns passos. Querem companhia ou, se foram deixados na rua por donos sem coração, frequentemente aí ficando todo o dia ou toda a noite, podem socorro com um miado estridente, insistente e implorante, que significa que estão com fome, ou sede ou frio. Um gato enrolando-se nas nossas pernas numa esquina, pode estar a pensar se lhe será possível trocar uma casa pobre por uma melhor. Mas este gato não miava, apenas olhava, um olhar pensativo, directo, dos olhos amarelo-cinzento. Depois começou a seguir-me ao longo do passeio, hesitando, olhando para mim. Apresentava-se-me quando eu entrava e quando saía, e pesava-me na consciência. Teria fome? Trouxe-lhe alguma comida, que pus debaixo dum carro, e ele comeu um pouco, mas deixou o resto. No entanto, estava necessitado, desesperado, via-se. Teria ele uma casa na nossa rua, e seria uma má casa? Parecia estar a maior parte das vezes perto duma casa um pouco abaixo da nossa, e, uma vez quando uma mulher velha entrou ele entrou também. Portanto tinha casa. Mas continuou a seguir-me até ao nosso portão e uma vez, quando o passeio se encheu com uma onda de ruidosas crianças da escola, ele refugiou-se no nosso pequeno jardim da frente, aterrado, olhando-me enquanto eu entrava em casa.  

 

Doris Lessing

Gatos E Mais Gatos, Cotovia, 1995

publicado por coquetteintelectual às 19:54

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