Como é, mana? Tudo bem contigo, com o Vasco? E os miúdos? Olha, estou a escrever-te para te pedir um enorme favor, embora se não puderes diz-me à vontade, que eu tento arranjar outra forma. Ligaram-me do lar do pai a pedir para passarmos por lá, não sei bem o que seja, parece ser mais do mesmo, teve uns febrões de noite, não conseguiu ir à casa de banho, lá tiveram de mudar os lençóis. O que me disse a senhora foi que ele passou mais uma noite a perguntar por nós e pela mãe, não se percebia muito bem o que queria, dizia os nossos nomes e depois parece que adormecia, pelo menos ficava assim muito quieto, nem elas entendem se ficava ou não acordado. Assim que me ligaram tentei ligar-te mas acho que não tens o voice-mail activado (ai, ai...), mas ainda bem que existe agora esta maneira, posso mandar-te um recado via internet do meu telemóvel, embora tenha passado aqui uma aflição, acho que um polícia topou que eu estava a teclar ao volante, embora estivesse parado no semáforo que ainda não estava verde, ainda assim não quis arriscar, andei mais uns metros e encostei e aqui estou a escrever-te, de facto hoje não há limites para as formas de comunicarmos, não percebo como é que faziam quando só havia telefones fixos e cartas, que tínhamos de ir levar ao correio e demoravam um tempão a chegar. E nem vais acreditar na coincidência, acontece que parei aqui mesmo muito perto do lar, só não reparei logo porque hoje é feriado e há montes de lugares para estacionar, estou habituado, como tu deves estar, a andar por aqui às voltas à espreita de uma nesga. Mas hoje não, e dá para ver, quem diria, que a rua é bonita, cheia de árvores, não sei se já tinhas dado conta, e as árvores carregadas de flores, é a Primavera, sim senhora. E por falar em Primavera, disse-me também a senhora do lar aqui há uns tempos que as pessoas da idade do pai se vão um pouco abaixo nesta época, parece um bocado estranho porque é uma estação bonita e feliz, mas parece que é assim mesmo. Mas voltando ao que interessa, se não te importasses passavas aqui esta tarde, não vais ter problema a estacionar como já referi, portanto estás à vontade, não vais ter stresse adicional, que já bem nos basta a vida que levamos, não é? Também sentes, como eu, que o tempo parece que nunca chega? É uma coisa que eu tento explicar ao pai quando cá venho, quando me parece que ele está a ouvir, explico-lhe que entre as reuniões do trabalho, as reuniões na escola dos miúdos, as acções de formação a que convém sempre ir para não ficarmos para trás nas promoções, caramba o tempo voa, não é? Porque é que os pais têm tanta dificuldade em perceber que as coisas já não são como no tempo deles? Não tenho muito mais para te elucidar antes de ires vê-lo, só que, como já te disse, passou a noite a dizer o meu nome e o teu, e o da mãe, muitas vezes, como se ela estivesse ainda viva. Bom, só te digo que nem tudo é mau nesta vida... Olha se não pudéssemos enviar mensagens do telemóvel?
Rodrigo Guedes De Carvalho
Máxima, Número 263, Ano 21, Agosto De 2010