Coquette - de origem francesa "coquette" significa sedutora, na gíria portuguesa pode significar vaidosa ou graciosa. Intelectual - que pertence ao intelecto ou à inteligência, espiritual.

09
Abr 10

 

 

Todas estas capacidades tiram partido de um facto primordial: as emoções são contagiosas. Influenciamos o estado de espírito uns dos outros. Influenciar o estado emocional de outra pessoa para melhor ou para pior é perfeitamente natural; fazemo-lo a toda a hora e a todo o instante, «pegando» as emoções uns aos outros como se se tratasse de uma espécie de vírus social. Esta permuta de emoções constitui uma economia interpessoal invisível, parte de qualquer interacção humana, mas é normalmente demasiado subtil para se notar.

Mesmo assim, a transmissão do estado de espírito é notavelmente poderosa. Quando três estranhos, todos eles voluntários num estudo sobre o estado de espírito, se sentaram calados num círculo durante dois minutos, a pessoa emocionalmente mais expressiva transmitiu o seu estado de espírito às outras em apenas dois minutos. Em todas as sessões desse tipo, o estado de espírito que a pessoa mais expressiva tinha à entrada foi também a disposição que as outras duas sentiam quando saíram - quer fosse feliz, aborrecida, ansiosa ou zangada.

As emoções são contagiosas. Como disse o psicanalista Carl G. Jung: «Em psicoterapia, mesmo que o médico se distancie totalmente do conteúdo emocional do paciente, o simples facto de este ter emoções exerce no médico um efeito. E o médico comete um grande erro quando pensa que pode elevar-se acima disso. Não pode fazer mais do que tornar-se consciente do facto de estar afectado. Se não vir isso, é demasiado altivo e compreende mal a questão.» 

O que é verdadeiro na permuta íntima da psicoterapia não é menos verdade na loja, na sala de reuniões ou no ambiente emocional da vida profissional. Transmitimos estados de espírito entre nós com tanta facilidade porque podem constituir sinais vitais para a sobrevivência. As nossas emoções dizem-nos em que concentrar a atenção, quando estar pronto para a acção. As emoções são o chamariz da atenção, funcionando como avisos, convites, alarmes ou coisa que o valha. São mensagens poderosas, que transmitem informação crucial sem colocarem necessariamente a informação em palavras. As emoções constituem um modo extremamente eficiente de comunicação.

Numa horda humana primitiva, o contágio emocional - a propagação do medo de pessoa para pessoa - actuava presumivelmente como um sinal de alarme, concentrando em pouco tempo a atenção de todos num perigo iminente, como um tigre a aproximar-se, furtivo.

Nos nossos dias, o mesmo mecanismo colectivo actua sempre que se espalha a palavra de uma queda alarmante nas vendas, uma vaga futura de despedimentos ou uma nova ameaça de um concorrente. Cada pessoa situada na cadeia de comunicação activa o mesmo estado emocional subjacente no seguinte, passando a mensagem para estar alerta.

As emoções são um sistema de sinalização que não precisa de palavras - um facto da evolução que os teóricos vêem como uma razão por que as emoções desempenharam um papel tão crucial no desenvolvimento do cérebro humano muito antes de as palavras se tornarem uma ferramenta simbólica para os seres humanos. A herança evolutiva significa que o nosso radar das emoções nos sintoniza com o mundo que nos rodeia, contribuindo para interagirmos de forma mais harmoniosa e eficiente. 

A economia emocional é a soma total das permutas de sentimento entre nós. De forma subtil (ou não tão subtil como isso) todos nós fazemos sentir-nos uns aos outros um pouco melhor (ou bastante pior) na sequência de qualquer contacto que temos; cada encontro pode ser medido numa escala que vai de emocionalmente tóxico a acalentador. Embora a sua actuação seja em grande parte invisível, esta economia pode ter imensos benefícios num negócio ou no ambiente da vida das organizações.

 

Daniel Goleman

Trabalhar Com Inteligência Emocional, Temas E Debates, 1999 

publicado por coquetteintelectual às 19:23

06
Abr 10

Ao redigir e publicar em treze livros, a partir de 1677, cento e oitenta e seis sermões, o Padre António Vieira fixou no tempo os seus actos de orador. Este gesto do final da vida tornou-o um autor e valeu-lhe figurar na história da literatura portuguesa, nos cânones, nas antologias e manuais escolares. No entanto, o seu legado artístico não corresponde plenamente à identidade estética de Vieira: a de orador. Esse permanecerá para sempre irrecuperável, dada a efemeridade do acto de dizer. A voz, a figura, o movimento do corpo, a expressão, o público, a situação histórica, a iluminação, os sentimentos e tudo o mais difere, falta e faltará, sem hipótese de restauro. O conjunto destas parcelas é que conferia o seu modo de ser estético à pregação. Uma boa parte da estesia oratória de Vieira não se deixará assim apreender, mas apenas imaginar.

No que ficou dessas pregações - os sermões escritos - podemos no entanto captar uma parte do perfil estético de Vieira. É o caso da dimensão retórica desse mesmo perfil.

(...)

 

Margarida Vieira Mendes

Revista Colóquio / Letras, Ensaio, Número 110/111, 1989  

publicado por coquetteintelectual às 19:12

03
Abr 10

Em literatura, o sentido é produzido pelo leitor mediante os estímulos que o texto lhe oferece.

(...)

A obra literária é «enriquecida» por cada leitor «suficiente», que nela descobre (ou gera) novos sentidos. Liberto do autor, o texto ganha uma vida própria. Torna-se uma relação concreta, diálogo, transacção, cópula. Tem a vida que lhe empresta a subjectividade de cada leitor. De Montaigne a Valéry não vai grande distância: história da literatura igual a história dos leitores, melhor, das leituras. Chegamos a uma concepção recente: a de Hans Robert Jauss, paladino da «estética recepcional». Segundo ele, «a vida histórica da obra literária é inconcebível sem o papel activo que desempenha o seu destinatário». Daí o historiador da literatura não passe dum leitor consciente do seu lugar na sucessão histórica dos leitores.

(...)

A literatura é o domínio do instável, miragem de eternidade que paira sobre a corrente dos anos e dos séculos. Um absoluta à escala humana: fica e passa. (...) Porque a obra literária, como acentuou Umberto Eco, é, por natureza, «aberta»:

«A abertura e a "totalidade" não revelam dos estímulos objectivos, em si próprios materialmente determinados; não dependem tão-pouco do sujeito que, em si, se encontra disposto a todas as aberturas e a nenhuma; residem, sim na relação de conhecimento no decurso da qual se efectivam as aberturas suscitadas e dirigidas pelos estímulos, estes, por seu turno, organizados em obediência a uma intenção estética.»

Concebida assim a abertura, a vida das obras através de sucessivos leitores é subjectiva, mas não só, porque a «leitura» é dirigida, orientada por um tecido de estímulos que permanece, como que liberto do tempo, com o seu poder de pro-vocação, de convite.

(...)

Assim a literatura é um espaço de convivência, de comparticipação, onde simultaneamente se afinam o apreço pelo original e a consciência da comunidade. A própria língua, dentro da qual trabalha (é trabalhado) o escritor, impõe a dimensão social do literário.

(...)

 

Jacinto Do Prado Coelho

Bertrand, 1976           

publicado por coquetteintelectual às 16:28

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