Tenho uma teoria sobre o Carnaval. Para dizer a verdade tenho teorias sobre TUDO, mas não há espaço para TUDO, portanto falo do que é mesmo importante: o Carnaval. Acredito que quanto mais sofre um país, maior é o Carnaval. Tipo Brasil ou Caraíbas.
E é por isso que acho que nós somos um país cheio de manha, feliz a fingir que é infeliz: a prova é que os nossos carnavais nunca foram grande coisa. Salvo, admito, os de Ovar e Torres Vedras, mas aí fazem batota, põem as raparigas a tiritar de frio (deste lado do hemisfério é Inverno) para elas ficarem com os mamilos em alerta erótico. Somo como o rico avarento dos contos: fingimos ser infelizes com medo de que os outros (os reformados ingleses, os gelados finlandeses, essa gente europeia mesmo desgraçada) venham querer também um pedaço da nossa felicidade. O Carnaval é sempre foi o mundo de pernas para o ar: "A vida são dois dias, o Carnavl três, por isso diverte-te!" A vida durava um pouco mais, é certo, mas nestes três dias o pobre virava rico, o fraco virava poderoso, o escravo mascarava-se de senhor (e dançava senhor da rua), o senhor mascarava-se de escravo (no baile do palácio). Em Trás-os-Montes havia os caretos, e os rapazes endiabrados punham a aldeia a ferro e fogo, em "luta" contra os dois "inimigos" (os adultos casados, as danadas das raparigas). Até que, no baile, as pazes eram feitas e a harmonia restabelecida: com beijos, apalpões e música pimba.
Agora as aldeias estão vazias, vieram todos para a PSP ou embalaram para França. Ná, o Carnaval só é bom em países mesmo na mó de baixo. O do Haiti 2011 será decerto magnífico. Já pelo do Brasil tenho alguns receios, agora que o nosso irmão se está a revelar um gigante económico. Em compensação, nós...
O lado bom, galera, é que nunca é tarde para aprender a dançar.
Rui Zink
Metro, 1 de Fevereiro de 2010