A leitura das obras literárias obriga-nos a um exercício da felicidade e do respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica dos nossos dias, pela qual de uma obra literária se pode fazer o que se quiser, lendo nela o que nos sugerirem os nossos impulsos mais incontroláveis. Não é verdade. As obras literárias convidam-nos à liberdade de interpretação porque nos propõem um discurso a partir dos inúmeros planos de leitura e nos colocam perante as ambiguidades da linguagem e da vida. Mas para podermos avançar neste jogo, pelo qual cada geração lê as obras literárias de maneira diferente, temos de ser movidos por um profundo respeito em relação à que denominei algures por intenção do texto.
Umberto Eco
"Sobre Algumas Funções Da Literatura", Sobre Literatura, Difel, 2003