Os saltos qualitativos e quantitativos da Internet, o telefone móvel e as modificações profundas na televisão são os fenómenos mais visíveis no mundo da comunicação.
No que respeita à Net, há que destacar, antes do mais, o correio electrónico. 1500 milhões de pessoas recorrem aos e-mails para fechar negócios, namorar, mandar recados, fazer encomendas, lançar produtos e serviços, comprar bilhetes para espectáculos, corresponder-se com amigos e familiares, louvar, insultar, mentir, alterar ou deturpar textos e imagens, dar notícias verdadeiras e executar centenas de outras funções.
A Internet não se fica por aqui. Permite criar e aceder a portais, sites, sub-sites, blogues, redes sociais, chats, foros, clubes, associações, emitir televisão, falar ao telefone (Skype) carregar e descarregar fotografias, vídeos, filmes, música, rádio e podcasts, proceder a investigações aprofundadas sobre todos os assuntos, visitar museus, monumentos, restaurantes, hotéis, jogar jogos de todas as espécies. As redes sociais, que, num sentido mais amplo, abarcam os YouTube, os MySpace ou os Messengers, e as próprias redes particulares, P2P, para além, portanto, dos Facebook, Hi5, Linkedin ou Twitter, são a manifestação mais recente da necessidade individual de falar de si próprio e lutar contra a solidão urbana.
O telefone móvel - 4000 milhões de aparelhos - concede-nos a possibilidade de comunicar oralmente, por escrito ou através do envio de imagens paradas ou em movimento com qualquer pessoa em qualquer parte do planeta. Dá-nos acesso directo à Net, à música, à televisão, a serviços de informação ou de entretenimento. Tudo isto com plena mobilidade, de casa, da rua, do escritório, do campo ou da praia e com melhorias e aplicações crescentes (iPhone e seus concorrentes). O telefone móvel alterou as relações sociais (rara é a reunião, seja trabalho, de formação ou entretenimento, onde não haja pessoas agarradas ao seu aparelho) e contribuiu para a emancipação da mulher (liberdade de contactar e ser contactada, se e quando quiser, e possibilidade de pagar a sua conta mensal sem qualquer controlo) e para a autonomização dos mais jovens.
Na televisão, que também beneficia da mobilidade, em consequência das novas capacidades de distribuição do sinal - cabo, satélite, e, de novo, Internet - assiste-se a uma quase infindável fragmentação e consequente especialização dos canais disponíveis, o que altera os esquemas e sistemas de produção. Além disso e de uma considerável melhoria da imagem - Alta Definição e, em breve, 3D (três dimensões) - e da sua recepção - plasmas, LCD -, o directo tornou-se cada vez mais fácil. (...)
ESTAS TRÊS ALTERAÇÕES radicais entranharam-se de tal maneira no tecido social que nem damos por elas, fazem parte do nosso dia-a-dia. (...)
Para além dos avanços na interactividade (o destinatário é parte integrante e actuante da mensagem), detectam-se modalidades mais intervenientes de utilização da Net, do telefone móvel e da própria televisão: o recurso incessante e por vezes abusivo às mais diversas bases de dados, a comunicação viral, a publicidade contextualizada, o cidadão repórter, o voto electrónico, a convocação de manifestações por SMS (recorde-se, por exemplo, que foi por esta via que Zapatero foi eleito da primeira vez). Acrescente-se aqui, noutro plano, a PlayStation, que aproxima filhos e pais e cria cultos ou simples modas de âmbito planetário.
A REVOLUÇÃO EM CURSO na comunicação/informação/entretenimento tem, obviamente, muitos efeitos positivos. Contribui decisivamente para a globalização, diminui o fosso entre info-ricos, leva e traz notícias que de outro modo permaneceriam abafadas (exemplo recente: as manifestações de Teerão), elimina barreiras geográficas e temporais, ajuda os países em desenvolvimento, em áreas fundamentais, como a saúde (as operações à distância), a educação (o e-learning) e até o trabalho (as videoconferências). A sociedade organiza-se cada vez menos em pirâmide e cada vez mais em rede, por vezes com características tribais (dos coleccionadores de Swatch aos admiradores de Madonna).
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Francisco Pinto Balsemão, Presidente do Grupe Impresa
Revista Única, Expresso, #1940, 31 de Dezembro de 2009