A poesia é uma viva descrição das coisas que nela se tratam; outros lhe chamam pintura que fala e imita o mesmo que faria a natureza, e com que agrada aos homens. O artifício da poesia tem por fim agradar, e por isso só se emprega em dar regras com que possa ocupar gostosamente um engenho. A isto consagram os poetas todo o seu engenho e juízo. Se buscam argumento elevado, é para agradar com a galantaria da imitação; se não dizem coisas contrárias às novas inclinações, isto mesmo é para agradar; se propõem movimentos apaixonados, com que pintam ao vivo diferentes afectos da alma, também isso é para agradar; de sorte que este ídolo do artifício poético. E como isto não se pode conseguir sem saber procurar pensamentos ou argumentos próprios para mover as nossas paixões, saber servir-se de palavras próprias para pintar aquela coisa que se quer (o que encerra as figuras da voz e do ânimo), fica bem claro que, para fazer tudo o que pede a arte, se requer boa Retórica. Mas esta razão se entenderá melhor se observarmos as diferentes espécies de poesia.
Luís António Verney
Verdadeiro Método De Estudar - Carta VII