Na casa
onde todos iam e vinham como formigas
carregando às costas cada hora
só ela sem paciência
desfazia o colar das horas transportadas.
E perguntava qual a medida do tempo:
se as horas
se o sonho que as desligava.
Na casa
onde todos dormiam só ela velava.
E perguntava:
se era ela sonhando que dormia
com os outros sem sonhos a velá-la.
Na casa
onde todos rezavam orações decoradas
à volta de uma imagem
só ela anjo mudo
escutava na aragem
a voz que lhe chegava do princípio de tudo.
Natália Correia
Poesia Completa, Dom Quixote, 1999