Coquette - de origem francesa "coquette" significa sedutora, na gíria portuguesa pode significar vaidosa ou graciosa. Intelectual - que pertence ao intelecto ou à inteligência, espiritual.

29
Jan 09

 

"Os abraços às escondidas, o seu corpo de encontro ao meu sem que pudesse escapar-me, sem que quisesse escapar-me, os beijos. Tudo se passou muito depressa e de forma muito intensa. Quis falar com o Duarte e a coragem faltou-me uma vez, tantas vezes, todas as vezes. E o Duarte esquecia-se de mim uma vez, duas vezes, demasiadas vezes. Afoguei-me em pensamentos e contradições, argumentos e conceitos. Era traição? Sosseguei-me tentando acreditar que só no meio dos lençóis se trai verdadeiramente. Enganei-me."

 

Margarida Fonseca Santos

Começar De Novo, Oficina Do Livro, 2008

publicado por coquetteintelectual às 20:17

24
Jan 09

The possibility of creating an otherness (...) springs not just from the fact that words consist of certain sounds and shapes, but also from the fact that these sounds and shapes are nexuses of meaning and feeling, and hence deeply rooted in culture, history and the varities of human experience. The formal sequence therefore functions as a staging of meaning and feeling: a stating that is realized in what I have called a performative reading.

 

Derek Atteidge

The Singularity Of Literature, 2004

 

publicado por coquetteintelectual às 19:38

23
Jan 09

 

 

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.

 

José Luís Peixoto

A Criança Em Ruínas, Edições Quasi, 6.ª Edição, 2007

publicado por coquetteintelectual às 20:32

15
Jan 09

 

«Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que há mais de um século se fustiga ruidasosamente pela sua hipocrisia, fala prolixamente do seu próprio silêncio, se obstina em pormenorizar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete libertar-se das leis que a fizeram funcionar. Gostaria de inventar não apenas apenas esses discursos mas a vontade que os impele e a intenção estratégica que os sustenta. A questão que gostaria de pôr não é a de saber porque é que somos reprimidos, mas porque é que dizemos, com tanta paixão, com tanto rancor contra o nosso passado mais próximo, contra o nosso presente e contra nós próprios, que somos reprimidos. Por que espiral chegámos ao ponto de afirmar que o sexo é negado, de mostrar ostentivamente que o escondemos, de dizer que o calamos - e isto formulando-o em palavras explícitas, procurando mostrá-lo na sua realidade mais nua, afirmando-o na positividade do seu poder e dos seus efeitos?»

 

Michel Foulcault 

História da Sexualidade I - A Vontade de Saber, Relógio D'Água, 1994 

publicado por coquetteintelectual às 21:41

14
Jan 09

 

 

Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela varanda, ilumina uma jarra, essas flores, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face da última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita. Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial. Venho à varanda e debruço-me para a noite. Uma aragem quente banha-me a face, os cães ladram ao longe desde o escuro das quintas, fremem no ar insectos nocturnos.

(...)

Sinto, sinto nas vísceras a aparição fantásticas das coisas, das ideias, de mim, e uma palavra que o diga coalha-me logo em pedra.

(...)

Ah, ter a evidência ácida do milagre que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois, em fulgor, que tenho de morrer. A minha presença de mim a mim próprio e a tudo o que me cerca é dentro de mim que a sei - não do olhar dos outros. Os astros, a Terra, esta sala, são uma realidade, existem, mas é através de mim que se instalam em vida: a minha morte é o nada de tudo.

(...)

 

Vergílio Ferreira

Aparição, Bertrand Editora, 73.ª Edição, 2004

publicado por coquetteintelectual às 18:39

12
Jan 09

 

 

 

  

Caros anunciantes, leitores e amigos,

  

A 28 de Janeiro de 2009 o JL terá a sua edição 1000 !!!

 

Esta será, mesmo, uma edição histórica!

  

Agradecemos a melhor atenção e subscrevemo-nos com toda a estima.

 

Contacto publicidade JL

Conceição Morais Carvalho

tel 214698221 * fax 214698540

e-mail  mccarvalho@impresa.pt novo mail

 

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Com os melhores cumprimentos,
Luis Barata


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publicado por coquetteintelectual às 18:12

07
Jan 09

 

 

"«O que estamos a fazer» é, na verdade, o tema central deste livro, que aborda apenas as manifestações mais elementares da condição humana, as actividades que tradicionalmente, e também segundo a opinião corrente, estão ao lacance de todo o ser humano. Por esta e outras razões, a mais alta e talvez a mais pura actividade de que os homens são capazes - a actividade de pensar - não se inclui nas actuais considerações. Sistematicamente, portanto, o livro limita-se a uma discussão do labor, do trabalho e da acção (...).

(...)

Contudo, a era moderna não coincide com o mundo modernp. Cientificamente, a era moderna começou no século XVII e terminou no limiar do século XX; politicamente, o mundo moderno em que vivemos surgiu com as primeiras explosões atómicas. (...) Limito-me, por um lado, a uma análise das capacidades humanas gerais decorrentes da condição humana, e que são permanentes, isto é, que não podem ser irremediavelmente perdidas enquanto não mudar a própria condição humana."

 

Hannah Arendt

A Condição Humana, Relógio D'Água Editores, 2001

publicado por coquetteintelectual às 19:04

05
Jan 09

 

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.

 

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.


Ricardo Reis

publicado por coquetteintelectual às 21:35

04
Jan 09

 

 

Iámos sós pela floresta amiga,

Sob o incenso da Lua que se evola,

Olhos no céu, modesta rapariga!

Como as criança ao sair da escola

 

Em teus olhos já meigos de fadiga,

Semicerrados como o olhar da rola,

Eu ia lendo essa balada antiga

Duns noivos mortos ao cingir da estola...

 

A Lua-a-Branca, que é tua Avozinha,

Cobria com os seus os teus cabelos

E dava-te um aspecto de velhinha!

 

Que linda eras, o luar que o diga!

E eu compondo estes versos, tu a lê-los,

E ambos cismando na floresta amiga...

 

António Nobre

publicado por coquetteintelectual às 15:56

02
Jan 09

 

 

"Até parece que foi hoje. Levantou-se, fez as malas... E sempre em silêncio, apenas saiu..."

"Nove anos de uma vida em comum e acordei com a sensação de que, à parte de termos compartido os lençóis da mesma cama e algumas horas de alguns dias das nossas vidas, não partilhámos absolutamente mais nada..."

Esconder, silenciar, abdicar do ser próprio para nos moldar-mos ao ser amado...

O medo de ferir, abrir diálogos passados para não pôr em causa um futuro incerto, quase sempre com os dias contados...

O espelho do quarto, o nosso melhor confidente; o corpo que se arrasta sem forças para mais... o silêncio...

Há sempre um dia em que a alma diz "BASTA", como um grito fechado numa gaveta empoeirada pelo peso do tempo; há sempre um dia em que acordamos fartos de viver o que ainda não existe e queremos fugir do que já vivemos, fugir de nós, fugir de tudo e de todos...

"O Silêncio das Almas" fala desses dias em que o mundo cai sobre as nossas costas sem que o possamos mais suster; esse mundo onde o silêncio e o amanhã são almas gémeas que acabam por sacrificar tudo o que ficou para trás, tudo o que foi bom, tudo o que deixou de ser, hoje, aqui e agora.

"O Silêncio das Almas" é uma história contada a duas vozes, uma história sobre os desencontros que caminham na mesma direcção à procura da mesma coisa, de maneira diferente... em silêncio.

 

Hugo Girão & Isabel Fontes

O Silêncio das Almas, Fronteira Do Caos Editores, 2007  

publicado por coquetteintelectual às 18:53

01
Jan 09

 

 

A história da redacção da vaca é um daqueles mitos urbanos envolvidos em mistério - como boa parte das histórias que passam pela mesa de trabalho d'O Homem Que Mordeu o Cão. Num lugar surgem descritos certos pormenores de localização e autoria que, noutro lugar, são já completamente diferentes. Foi exactamente desta maneira que o caso chegou às minhas mãos: como uma mente algo... à deriva, digamos assim.

«O pássaro de que vos vou falar é o mocho. O mocho não vê nada de dia, e à noite é mais cego que uma toupeira. Não sei grande coisa mocho, por isso vou continuar com outro animal que vou escolher - a vaca.

A vaca é um mamífero. A vaca tem seis lados: o da direita, o da esquerda, o de cima, o de baixo, o de trás, que tem um rabo, o qual tem um pincel pendurado. Com este pincel espantam-se as moscas para que não caiam no leite. A cabeça serve para que lhe saiam cornos e também porque a boca tem que estar nalgum lado. Os cornos são para a vaca combater com eles. Pela parte de baixo tem leite, está equipada para ordenhar. Quando se ordenha, o leite vem e não pára nunca. Como é que se desenrasca, a vaca? Nunca compreendi, mas o leite sai cada vez mais com abundância.

O marido da vaca é o boi. O boi não é mamífero. A vaca não come muito, mas o que come, come duas vezes, ou seja: já tem bastante. Quando tem fome, muge; quando não diz nada, é porque está cheia de erva por dentro. As suas patas chegam ao chão. A vaca tem o olfacto muito desenvolvido, peçlo que se pode cheirá-la desde muito longe.

É por isso que o ar do campo é tão puro.»

 

Nuno Markl

O Homem Que Mordeu O Cão, Texto Editora, 2002 

publicado por coquetteintelectual às 16:57

 

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
O canto para todos
Por todos entendido

Musa ensina-me o canto
O justo irmão das coisas
Incendiador da noite
E na tarde secreto

Musa ensina-me o canto
Em que eu mesma regresso
Sem demora e sem pressa
Tornada planta ou pedra

Ou tornada parede
Da casa primitiva
Ou tornada o murmúrio
Do mar que a cercava

(Eu me lembro do chão
De madeira lavada
E do seu perfume
Que atravessava)

Musa ensina-me o canto
Onde o mar respira
Coberto de brilhos
Musa ensina-me o canto
Da janela quadrada
E do quarto branco

Que eu possa dizer como
A tarde ali tocava
Na mesa e na porta
No espelho e no corpo
E como os rodeava

Pois o tempo me corta
O tempo me divide
O tempo me atravessa
E me separa viva
Do chão e da parede
Da casa primitiva

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
para prender o brilho
Dessa manhã polida
Que poisava na duna
Docemente os seus dedos
E caiava as paredes
Da casa limpa e branca

Musa ensina-me o canto
Que me corta a garganta

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

"Livro Sexto", Obra Poética II, Editorial Caminho, 1991

publicado por coquetteintelectual às 16:49

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