"Ao meu lado estava um livro e, ao abri-lo, muito casualmente, folheei-o até Tennyson. E aqui dei com Tennyson a cantar:
Caiu uma lágrima esplêndida
Do martírio junto ao portão.
Ela está a chegar, a minha pomba, o meu amor;
Ela está a chegar, a minha vida, o meu destino;
A rosa vermelha grita: «Está perto, está perto;»
E a rosa branca chora: «Está atrasada»;
A esporeira escuta: «Estou a ouvi-la, a ouvi-la»;
E o lírio murmura: «Eu fico à espera.»
Era isso que os homens sussuravam nos almoços antes da guerra? E as mulheres?
O meu coração é como uma ave a cantar
Cujo ninho está num ramo orvalhado;
O meu coração é como uma macieira
Cujos ramos se vergam carregados de frutos;
O meu coração é como uma concha irisada
Que brinca num mar calmo;
O meu coração está mais alegre que tudo à minha volta
Porque o meu amor está a chegar junto de mim
Era isso que as mulheres sussuravam nos almoços antes da guerra?
Havia qualquer coisa de tão ridículo ao imaginar as pessoas a murmurar tais coisas, mesmo sendo em voz baixa, nos almoços antes da guerra que dei uma gargalhada e tive de explicar o meu riso (...)."
Virginia Woolf
Um Quarto Só Para Si, Relógio D'Água, 2005