Um livro é mais que uma estrutura verbal, ou que uma série de estruturas verbais: é o diálogo que trava com o seu leitor e a entoação que impõe à sua voz e as cambiantes e duradouras imagens que deixa na sua memória. Este diálogo é infinito; (...) A literatura não é esgostável, pela simples e suficiente razão de que nem um só livro o é. O livro não é um ente incomunicado: é uma relação, é um eixo de inúmeras relações. Uma literatura difere de outra, ulterior ou anterior, menos pelo texto do que pela maneira de ser lida: se me fosse permitido ler qualquer coisa actual - esta, por exemplo - como a lerão no ano 2000, eu saberia como será a literatura do ano 2000.
Jorge Luís Borges
"Notas Sobre (Para) Bernard Shaw" (1951), Obras Completas 1952-1972, Volume II, Círculo De Leitores, 1998